Por Cynthia M. Cominesi
Recentemente, tive a oportunidade de participar do Dia de Campo Online sobre Tecnologias para Produção de Soja Baixo Carbono, promovido pela Embrapa Soja. Durante o evento, foram discutidas inovações e diretrizes técnicas voltadas para a implementação de práticas sustentáveis na cultura da soja, com foco em reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). A iniciativa está alinhada ao Programa Soja Baixo Carbono (PSBC), que visa agregar valor à soja brasileira por meio de um sistema de certificação de baixa emissão de carbono.
Esse evento não só destacou a relevância das práticas agrícolas mais sustentáveis, como também enfatizou a crescente demanda por certificações no setor agropecuário, tanto no Brasil quanto no exterior. Com o aumento das exigências dos mercados consumidores e das legislações ambientais, as certificações surgem como ferramentas essenciais para agregar valor ao produto e garantir a competitividade dos produtores no mercado global.
O Papel das Certificações no Agronegócio
Certificações como o Programa Soja Baixo Carbono têm se tornado fundamentais para o agronegócio, uma vez que estabelecem padrões de qualidade e sustentabilidade, garantindo que a produção atenda a critérios ambientais, sociais e econômicos. Esses padrões oferecem segurança aos compradores e consumidores sobre a origem dos produtos e o compromisso dos produtores com a preservação ambiental e práticas agrícolas responsáveis.
Além disso, a certificação atua como um diferencial competitivo no mercado internacional, especialmente em um momento em que as práticas sustentáveis estão ganhando cada vez mais relevância nas decisões de compra. Países e blocos econômicos como a União Europeia, por exemplo, estão implementando normas ambientais mais rigorosas para a importação de produtos agropecuários. Nesse contexto, produtores certificados conseguem acessar esses mercados de forma mais fácil e com melhores condições de negociação.
A Certificação Soja Baixo Carbono da Embrapa
O Programa Soja Baixo Carbono (PSBC), descrito no relatório publicado pela Embrapa Soja, é um exemplo claro de como a inovação pode promover práticas agrícolas mais sustentáveis e ao mesmo tempo agregar valor ao produto final. A certificação é baseada em um protocolo que inclui diretrizes técnicas e indicadores que devem ser atendidos para que o selo de Soja Baixo Carbono seja concedido.
A certificação, ainda em fase inicial de implementação, conta com a parceria de diversas empresas do setor e visa validar práticas agrícolas que reduzam a intensidade das emissões de GEE no processo de produção. Os principais critérios de elegibilidade incluem: adequação do imóvel rural, eliminação de queimadas deliberadas, normatizações de risco e adequação do sistema de produção. Essas diretrizes garantem que a produção de soja certificada atenda a padrões rigorosos de sustentabilidade.
Um ponto interessante do PSBC é que ele não se aplica necessariamente à propriedade rural como um todo, mas sim aos talhões específicos que adotam as práticas exigidas pelo protocolo. Isso permite que o produtor adote a certificação gradualmente, conforme vai ajustando suas práticas agrícolas e melhorando sua infraestrutura e gestão.
Desafios na Implementação das Certificações
Apesar dos benefícios, a adesão às certificações ainda enfrenta desafios no Brasil, especialmente para pequenos e médios produtores. Entre os principais obstáculos estão:
- Complexidade dos Processos de Certificação: Muitas certificações exigem o cumprimento de uma série de normas e regulamentações que podem ser complexas e custosas para os produtores. Isso inclui desde a adequação legal e trabalhista do imóvel rural até a implementação de tecnologias agrícolas específicas, como o sistema de plantio direto e a adubação correta conforme recomendações técnicas.
- Custo de Adequação e Certificação: A implementação das práticas exigidas e o próprio processo de certificação podem gerar custos adicionais para o produtor. Em muitos casos, há a necessidade de investimentos em infraestrutura, capacitação de pessoal e consultorias especializadas.
- Falta de Assistência Técnica e Capacitação: A carência de assistência técnica qualificada e programas de capacitação voltados para a adoção de práticas sustentáveis dificulta a adesão dos produtores, especialmente aqueles localizados em regiões mais remotas.
A Importância de Alinhar as Certificações com a Realidade dos Produtores
Para que as certificações sejam mais amplamente adotadas, é essencial que elas estejam alinhadas com a realidade dos produtores rurais. O relatório da Embrapa menciona que a simplificação dos processos e a criação de critérios claros e auditáveis são passos fundamentais para aumentar a aceitação das certificações no setor agrícola brasileiro. O Programa Soja Baixo Carbono já se destaca nesse aspecto ao adotar um modelo de certificação mais flexível, que permite a adesão gradual por parte dos produtores.
Outro ponto importante é o fortalecimento de parcerias entre produtores, empresas do setor e instituições de pesquisa, como a própria Embrapa. Essas parcerias podem facilitar o acesso a tecnologias sustentáveis e contribuir para a capacitação dos produtores, garantindo que todos estejam aptos a atender aos critérios de certificação sem grandes dificuldades.
Perspectivas Futuras para a Certificação Soja Baixo Carbono
O sucesso do Programa Soja Baixo Carbono depende de um esforço conjunto entre todos os elos da cadeia produtiva. Desde o fornecimento de insumos até a comercialização, é necessário que todos estejam comprometidos com a adoção de práticas mais sustentáveis. A Embrapa Soja desempenha um papel fundamental nesse processo, atuando como mediadora e oferecendo suporte técnico e científico para o desenvolvimento de soluções que ajudem os produtores a mitigar as emissões de GEE e melhorar o balanço de carbono nas áreas de produção.
Além disso, o programa oferece uma excelente oportunidade para que o Brasil se posicione como líder global em sustentabilidade no setor agrícola. A certificação Soja Baixo Carbono pode servir como modelo para outros países e culturas, demonstrando que é possível combinar produtividade e rentabilidade com práticas ambientalmente responsáveis.
Participar do evento da Embrapa Soja foi uma experiência enriquecedora, que reforçou a importância das certificações para o agronegócio brasileiro. Iniciativas como o Programa Soja Baixo Carbono não apenas atendem a uma demanda crescente por produtos mais sustentáveis, mas também criam oportunidades para o desenvolvimento de uma agricultura mais eficiente e competitiva. A adoção de certificações como essa, alinhada às necessidades e capacidades dos produtores, é um caminho promissor para garantir a sustentabilidade e a valorização da soja brasileira nos mercados globais.